Nota prévia: A questão da gestão da perigosa falta de água levou a alguns comentários. Uns , sugerindo “ deixar os problemas em paz “ . Outros, propondo “guardar a água” e “ deixar os abacates e os campos de golf em paz”. Penitencio-me por não ter sido suficientemente esclarecedor em questão tão delicada para o nosso futuro colectivo. Daí ter voltado ao assunto na esperança que ainda estejamos a tempo de controlar danos.
As plantações de abacate crescem sem parar. No entanto, a substituição de culturas de sequeiro por esta planta tropical , que requer muita água, tem consequências: stress hídrico, proliferação de poços ilegais, pior gestão da seca e solos degradados.
O principal problema que gera o enorme e incontrolado cultivo do abacate é a elevada exploração de água, de origem subterrânea e/ou superficial. Para atender a essa demanda crescente, alguns agricultores enveredaram por construir poços fora da lei, face à escassez e à vigente gestão de licenças.
A situação existente no Algarve não é distinta da que se verifica na Andaluzia, com especial expressão nas zonas de Málaga e Granada. Lá tal como cá – e cá já existem empresas espanholas, com marcada relevância, no cultivo e comercialização dos abacates --, também foram sinalizados poços ilegais e já se chegou ao extremo de, apesar da seca, os abacates continuarem a ser plantados, até mesmo regando-os com camiões-tanque.
E o que lá sucede, até porque alguns dos actores são os mesmos, aqui já sucede também ou então pode suceder! Então podemos, e não custa, aprender!
A verdade é que, na vizinha Região da Andaluzia, o alto consumo de água para irrigação do abacate, combinado com ondas de calor, maior evapotranspiração e períodos recorrentes de seca, induziu a uma grande exploração dos recursos hídricos, afectando drasticamente os ecossistemas fluviais e as zonas húmidas costeiras, bem como os aquíferos, tendo-se detectado casos de salinização, pela entrada de água do mar. Além disso, o esgotamento dos recursos hídricos afectou o abastecimento público de água para a população local, que foi confrontada com cortes de água de até 12 horas no verão de 2023. Aconteceu em Espanha, porque é que não há-de acontecer no Algarve onde o problema da gestão da água é, pelo menos, da mesma gravidade?
Outro problema resultante da plantação de abacates é a maior erosão dos solos. Para plantar abacates são, muitas vezes, necessários grandes movimentos de terras, situação que pode gerar empobrecimento da terra e marcada erosão aquando da chegada das chuvas.
Apesar de todas estas circunstâncias, os abacates estão a expandir-se e a área cultivada cresce sensivelmente. E há técnicos espanhóis que não têm duvidas: " (O abacate) … é uma cultura tropical, não mediterrânica, adaptada a regiões onde chove mais do que o dobro da Andaluzia, por isso gera um deficit hídrico significativo. Apesar disso, continua a crescer em Málaga e Granada, e … (está em) … expansão em Cádis, Múrcia e no sul de Portugal".
Os mesmos especialistas pedem … “ que se interrompa a transformação de culturas de sequeiro em culturas irrigadas, distribuindo equitativamente os recursos hídricos e aumentando a eficiência da irrigação”. E exigem garantir os fluxos ecológicos dos rios e a reflorestação dos solos degradados com espécies nativas, por forma a evitar a erosão e a perda de sais minerais do solo.
Mais comedimento, menos excessos e mais interventiva política agrícola só trará vantagens para que continue a haver água que chegue e sirva a todos o melhor possível. A água é um bem escasso.
Fontes : - Ecologistas em Acção --- Elena Alter, coordenadora da Área de Agroecologia e Rafael Yus
- Seprona ( Serviço de Protecção da Natureza )- Guarda Civil
- Junta de Andaluzia